terça-feira, 17 de agosto de 2010

Emily Dickinson declara a frase que eu mais aprecio:
 "O que torna a vida tão doce é saber que nunca mais voltará".

É tão intensa, tão pura e tão cheia de sentido que quase mais palavras do que as que a frase tem, não conseguem transmitir mais do que isso. Será por isso que teimamos em viver audazmente, desesperadamente, queremos fazer tudo, viver tudo tão depressa e no mesmo instante? Ou que nos damos ao minucioso trabalho de achar que o amanhã chegará sempre para completar aquele momento, para dizermos aquela frase, para sermos quem queríamos ser?  
Ousamos pensar sempre que a vida é uma  corda sem ponta, ou uma estrada sem fim, e no entanto viramos a esquina e o pedacinho de vida encontra-se lá. Perdemo-nos em discussões que nos magoam, em diálogos sem objectivo, em momentos não vividos, E eu pergunto: valerá a pena?

Corremos a cada momento em cima de uma corda bamba tão frágil, que nem nos damos conta. Fugímos de responsabilidades, contornamos conversas sérias, e por vezes camuflamo-nos. Soletramos palavras que não sabemos o que significam, caímos no silêncio interior, angustiamo-nos com pedacinhos de céu. Vivemos momentaneamente. As coisas fascinam-nos, baralham-nos, ou acabam por resultar em outras coisas..! No intervalo de acontecerem coisas as pessoas riem-se, sorriem, amam-se, beijam-se, desejam-se, abraçam-se, magoam-se. As pessoas estão lá, intrometem-se, ajudam-nos, acariciam-nos, falam-nos, querem-nos. As pessoas são pessoas porque um dia lhes demos esse intenso e audaz valor, se tal não acontecesse elas não seriam, nem estabaleceriam esse valor na nossa vida. As pessoas são o mais pequeno intenso sabor a doce que uma dia saboreámos. As pessoas, aquelas que colocámos na nossa vida, ou no nosso coração, são mais que amigos, são mais que namorado, são mais que família, são as pessoas da nossa vida.

Se soubessemos inalteradamente certas coisas, talvez mudássemos atitudes, talvez desconstruíssemos metade das azelhices, ou das coisas menos boas que um dia cometemos. Se soubessemos desde sempre esse sabor intenso que é viver, tanta coisa mudava, tanta coisa sorria, se aprendia, se abraçava.. Tanta coisa significava outra coisa, e cada coisa significava-se a si mesma.  

Se um olhar te prende, o que te faz a prisão?
Se um beijo te dá nervosismo, o que te faz o salto de uma ponte?
Se uma carícia te arrepia, o que te faz a solidão numa floresta?
Se um abraço te faz uma promessa para a vida, o que te faz uma aliança?
Se um sorriso te reconforta, o que te faz um cobertor no inverno?
Se um toque de mãos te aquece o corpo, que te faz o lume quando faz frio?
Se um amor te parte o coração, que te faz a "porrada"?

Se um dia fosses e não voltasses?
Se sorrisses e não chorasses?
Se abraçasses e não quisesses?
Se amasses e não pudesses_?
Se um dia eu partisse e nunca mais voltasse?

O passado e o presente, deviam-nos ajudar a construir o futuro, e não ser meros condicionantes, ou espaços vazios que ao chegarem perto de nós resolvemos apenas vivê-los.



(pastel de óleo e diversos materiais sobre cartão de combate de Joana Gonçalves)

E por isso eu acho que devemos agarrar a vida com todos os dedinhos, com toda a força, e com a vontade de espalhar cor em todo o lado. A vida sem cor não seria a mesma, sem o sol e a luz, sem a noite e a escuridão, sem qualquer tipo de cor. Devemos espalhar intensidades, mostrar certezas, e agir sem medo.

Devemos ser acima de tudo..!*

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